A incapacidade é apenas uma etapa da habilidade.

01:36 Posted by Cris

Costumeiramente tendemos a enxergar os problemas atribuindo-lhes uma dimensão realmente maior do que possuem. Com o processo de criação de um artista (seja ele um desenhista, um músico, um pintor, um escritor...), a constatação de tal fenômeno não poderia ser diferente no que tange ao reconhecimento do momento de sua incapacidade, acerca da realização de uma determinada obra. O que consideramos inicialmente como uma certa manutenção da falta de habilidade que nos cerca, nada mais é do que uma etapa de aprimoramento de uma técnica mantendo-se por tempo indeterminado, enquanto o próprio indivíduo não superá-la com o exercício de sua prática específica ao longo da vida. Assim as etapas de aprimoramento seguem uma escala crescente de dificuldade, pois quanto mais próximo da perfeição chegar o artista mais difícil lhe será a auto-superação. Se por um instante considerarmos teoricamente que este mecanismo de criação artística do ser humano, desenvolve-se nesta escala gradual, então gostaria de terminar este texto utilizando como exemplo a figura de dois mestres da pintura, e fazendo ao prezado leitor as seguintes perguntas levando-o a reflexão: O que teriam produzido Leonardo da Vinci e Michelangelo se tivessem aprimorado seus talentos artísticos, além do nível que os tornaram mundialmente conhecidos através de obras como "A última ceia" ou "A Monalisa"? Que obras não foram reveladas à humanidade pelo simples fato de não permitir o tempo que estes pintores continuassem seus trabalhos? Seja como for, com a morte de um artista morre também uma variedade de obras irrecuperáveis, pois não houve tempo para que o talento artístico atingisse tal grau de desenvolvimento que as trouxesse para o plano da realidade. Estas obras estão definitivamente perdidas pois foram extintas pelo tempo...

Somos inevitavelmente artistas?

01:39 Posted by Cris

Foram inúmeras as ocasiões em que escutei frases do tipo "Puxa!...você tem um dom...", ou "Você devia investir nisto..."; em alguns momentos quando mantive-me distante do lápis e papel devido a outras circunstâncias, cheguei a escutar palavras que me soaram mais tristes como: "Você abandonou o desenho?..." A este último questionamento respondo de imediato aproveitando-me deste espaço, dizendo que talvez tenha abandonado os traçados em alguns momentos de minha vida por circunstâncias que não vem ao caso, mas o desenho nunca me abandonou. Tais pensamentos me levaram a refletir nestas linhas sobre o denominado dom,... e sobre a inevitabilidade de sua manifestação através das mais diversas formas de expressão artística no indivíduo. Seria o dom (ou talento) uma característica inata de todo ser humano, independentemente do desenvolvimento de toda a sua potencialidade e aprimoramento de uma determinada técnica?... ou pelo contrário, o talento não seria uma característica inata do ser humano, e neste caso se manifestaria apenas naqueles indivíduos em que fossem constatados os elementos, que possibilitassem as condições de surgimento e desenvolvimento de uma determinada técnica artística? Longe de querer esgotar o assunto, gostaria de registrar que acredito que todo o indivíduo possui um dom artístico (ou talento se preferir meu prezado leitor), mas a questão vital reside a meu ver na identificação e no reconhecimento dos talentos de cada um, o que tem levado algumas pessoas a uma situação de frustração pessoal. Sendo assim, de acordo com a relação existente entre o indivíduo e as artes posso classificar as pessoas em três tipos: aquelas que identificam e desenvolvem seus talentos ao longo de suas vidas; aquelas que durante toda a sua existência não os identificam (e consequentemente não os desenvolvem) passando os seus dias acreditando que realmente não sabem fazer nada, ou que não levam jeito para nada; e por último aquelas que os identificam e simplesmente os abandonam abrindo mão de desenvolve-los. Conheci os três tipos de pessoas. Talvez você esteja lendo estas linhas e se questionando neste exato momento diante de minhas declarações: "Mas eu não sei fazer nada!...eu não sei desenhar, não sei escrever,...enfim!...não sirvo para as artes..." Permita-me dizer que isto é impossível, porque acredito que carregamos internamente uma potencialidade praticamente ilimitada, que em suas múltiplas facetas ainda não foi desvendada na sua totalidade. Eu não tenho todas as respostas, portanto não saberia lhe dizer como encontrar o seu talento, e muito menos afirmar que meu caro visitante está perdendo a chance de tornar-se um Monet ou um Chagall. Para mim este pequeno grupo de gênios artísticos foram pessoas que começaram do lápis e papel, com um simples esboço, talvez o primeiro rabisco mal feito ainda na infância, insignificante para os olhos dos adultos, mas que com o passar dos anos daria vida à obras-primas. Nestes homens a capacidade criadora se aprimorou de tal modo, que quase atingiu o limite da perfeição no tocante à produção artística.

Criar é observar, imaginar é reproduzir.

02:05 Posted by Cris

Há quem diga que a imaginação é o elemento vital no processo criativo. Eu concordo quanto a indispensabilidade de tal elemento, mas acredito que a despeito de toda a sua relevância, ele não representa o aspecto mais importante. Longe de ser uma opinião injusta, aparentemente incoerente, ou como quer que o prezado leitor a interprete (asseguro-lhe que não é minha intenção menosprezá-la), a prática da observação revela-se para mim como o elemento mais importante do que a imaginação propriamente dita. Digo isto embasado no fato que constato acerca de minha própria experiência na criação dos desenhos; quase sempre preciso recorrer a uma base para iniciar meu trabalho: a fotografia de um jornal, de uma revista,... uma cena real que me chame a atenção,...enfim, uma imagem que sirva de modelo para o meu trabalho, mas que pode e quase sempre é transformada visualmente no seu resultado final, através de elementos gráficos originais que são removidos, ou da inclusão de novos elementos que decido incorporar ao desenho.

O momento da criação.

01:37 Posted by Cris

Se você me perguntasse qual o momento ideal para a criação de um desenho eu não saberia responder, porque este momento é desconhecido e impreciso para mim. Eu o procuro durante todo o meu dia, no que me parece ser um estranho e inevitável duelo de forças entre o criador e aquela perfeita fração temporal da gênese de sua obra. Inexplicavelmente sempre tive a sensação de estar perseguindo este momento ideal, em que os traços ganham vida no papel exatamente da forma que imaginamos, em que cada detalhe parece compor um todo definitivo já no primeio esboço, sem precisar de retoques ou correções. Nesta busca, mesmo sabendo muito pouco sobre esta fase do processo de criação, tive ao menos o conhecimento suficiente para reconhecer que diversas vezes tentei criar meus desenhos em momentos errados, assim como imagino que deixei de aproveitar momentos perfeitos para concretizar minhas idéias no papel. Tudo que posso afirmar seguramente sobre o processo de criação, é que para mim ele representa uma busca contínua do criador pela perfeição do exercício de seu trabalho; mais do que contínuo este fenômeno é infindável, e como tal descortina-se diante dos olhos do desenhista revelando-lhe tragicamente o fato de que jamais terá seu objetivo concluído. Enfim,... o que é arte senão a busca incansável pela perfeição em suas diversas manifestações...

Meu inseparável mundo monocromático.

01:19 Posted by Cris

Sempre acreditei que nascemos com características inatas e praticamente imutáveis, no meu caso isto pode ser muito bem percebido no tocante a minha relação com o desenho. O mundo em preto e branco sempre me acompanhou,... durante a minha infância em meio aos cadernos e livros escolares lá estavam os lápis e a borracha; o papel em branco não foi tão essencial no começo, pois as folhas limpas e brancas inúmeras vezes foram substituídas pelas folhas traçadas dos cadernos; ainda guardo hoje os cadernos universitários entremeados com os mais variados rabiscos, cortando as matérias anotadas rapidamente numa caligrafia mal feita. Para mim sempre houve algo mais interessante do que simplesmente escrever (embora goste muito de escrever), sempre houve algo mais desafiador: a possibilidade de obter a perfeição nos traçados livres. Tal pensamento levou-me a explorar meus limites, descobrindo ao mesmo tempo a incapacidade de reproduzir no papel todas as formas de minha imaginação. Talvez isto seja efeito de um perfeccionismo natural que acompanha todo desenhista. Com o passar do tempo algumas modificações relacionadas a elaboração de minhas obras lograram êxito (como a utilização de carvão nos meus desenhos até então criados apenas com lápis preto), e outras revelaram-se tremendos fracassos (como minhas tentativas de desenhar utilizando materiais coloridos...tintas, giz pastel, lápis de cor...). Acredito que este momento foi decisivo para o fenômeno de construção de minha identidade enquanto desenhista, e para a definição de minha técnica de trabalho.

O início desta exposição virtual.

23:52 Posted by Cris

Prezado visitante,... como primeiro registro que faço questão de tornar público, gostaria de lhe dizer que esta idéia nasceu da sugestão de outras pessoas que convenceram-me a expor parte do meu trabalho nestas páginas,...sendo assim, seria injusto de minha parte se não dedicasse as primeiras linhas com toda admiração e respeito, àqueles que me incentivaram a realizar este trabalho de divulgação.